domingo, 20 de março de 2005

Em 2005, realizei uma Exposição Individual no Centro de Documentação em Lisboa, para a qual escrevi por primeira vez um Texto para o catálago da exposição. Nunca gostei muito de escrever sobre a minha pintura. Gosto que as pessoas sintam o que têm a sentir com ela, sem palavras adicionais, mas a mudança grotesca da sociedade e os comportamentos a ela associados levaram-me a isso.
O Sentido da existência e a dualidade ocidental entre homem e natureza constituem, nesta exposição, as principais interrogações. A vivência numa sociedade que apela para o domínio, a conquista e a posse, em detrimento de valores como a humildade, o respeito e a espontaneidade, afastam-nos cada vez mais da Mãe Natureza, enquanto entidade não artificial (e não material), e da nossa própria Natureza enquanto seres puros e verdadeiros.

A falta de compreensão, partilha e união tornam-se, inevitavelmente, uma consequência. Cabe a cada um dos presentes questionar-se se pretende, ou não, procurar uma mudança, uma transformação (em si), que o leve a partilhar uma nova filosofia e um novo estado de existência: o da harmonia e equilíbrio.

Na sequência do que foi anteriormente mencionado, visionam-se aqui três etapas de trabalho.
Numa primeira fase, elementos arquitectónicos sustentados por referências (à cidade de Veneza) e conceitos (como o da inteligibilidade) reforçam a importância dos ensinamentos dos antigos. A simplificação das formas, inclusive das cores e do seu tratamento, enfatizam um estado de despojamento e pureza: o estado primitivo das coisas.


Numa segunda fase, a intervenção de figuras mascaradas, envolvidas por uma forte gama cromática, convidam-nos à observação e contemplação. Entenda-se, aqui, observação como aquilo que vemos, e contemplação como aquilo que acabamos por descobrir quando nos envolvemos com o que vemos. O uso da figuração, cores fortes e pinceladas fluidas apelam, então, para diferentes dimensões: para o mundo exterior e interior, objectivo e subjectivo; para o que somos e deveríamos ser; para o que vemos e deixamos de ver; para o que somos e não somos; em suma: para a possível transformação.


A terceira, e última fase, nasce da admiração e influência do pensamento tradicional oriental. Mediante os ensinamentos dos antigos sábios e da prática de Artes Marciais, desvela-se a Natureza enquanto essência (de cada um - natureza individual) inserida numa grande Mãe Natureza (natureza exterior). Do equilíbrio e respeito por ambas dependerá, precisamente, a nossa mudança e evolução como seres humanos e sociais.


  

A ligeireza do carvão, as cores fortes e suaves em uníssono, as noções de espaço, o uso de elementos metafóricos (como a linha ou a montanha) manifestam essa preocupação e libertam-se numa procura. A procura pela desconstrução de ideias e artificialidade das coisas; a procura por uma nova consciência; a procura pelo equilíbrio, pureza, clareza e verdade dados pelo desenvolvimento da espiritualidade.

Marisa Noblejas, Fevereiro 2005


Nesta Exposição também fiz questão de realçar as palavras do Mestre de Artes Marciais Chinesas, Dr. Yang, Jwing-Ming , palavras que todos deveriamos escutar uma vez na vida .
Muitas vezes por elas optei por ficar na "minha montanha". À medida que vou conheçendo o ser humano, vou descubrindo uma fealdade anti-natura. anti.sensibilidade. anti-vera sabedoria . «Quando nascemos ainda fazemos parte do mundo natural, sem a contaminação do pensamento humano. Somos tão verdadeiros como os animais e pássaros e não sabemos mentir ou enganar. A Natureza é sempre verdadeira. Sempre foi e sempre será.
(...)
Não devemos ter medo do riso nem da crítica. Se não conseguirmos ser verdadeiros nesta sociedade então teremos de nos esconder nas montanhas.»

Dr. Yang, Jwing-Ming, Junho 1999 (Citação)

Com base nos ensinamentos do Mestre Yang e nos princípios por ele formulados, dei título e orientei a criação de vários trabalhos presentes nesta Exposição:  "Força de Vontade", "Honestidade", "Respeito", "Humildade" e "Lealdade" assim o exemplificaram.

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